For a long time now I have tried simply to write the best I can. Sometimes I have good luck and write better than I can. (Ernest Hemingway)

Friday, January 7, 2011

Trilogia Feminina (1) - Brigitte


Muito raramente, escrevo umas estórias curtas. De vez em quando vou postar uma aqui. Segue a primeira. Esta é de uma série de três estórias batizadas com nome de mulher (minha Trilogia Feminina).

BRIGITTE
Ela o olhou longamente, e nos seus olhos grandes e negros ele podia ver toda a ternura do mundo. Ele sabia que ela o amava, e ele a amava também. Estavam ambos no sofá. Ele, sentado, ela deitada com a cabeça no colo dele. Ele a acariciava distraidamente, deixando os dedos correrem entre os pelos da sua nuca. A televisão estava ligada, mas nenhum dos dois prestava atenção ao que estava passando. Ambos estavam em silêncio. Ele pensava na mulher que ambos amavam e que estava para chegar da rua, a qualquer momento. Fôra por desejo da mulher ausente que os três viviam juntos hoje. Não é possível dizer que nunca houve ciúme algum entre eles, mas de modo geral, viviam em paz, e o amor que todos nutriam pelos outros fazia funcionar bem o arranjo que tinham há três anos.
A mulher que estava para chegar (Paula era seu nome) tinha uma loja de roupas. Seu cabelo tingido de azul e a maneira com que Paula se vestia sugeriam que as peças que vendia seriam pouco convencionais e quem visitasse sua loja não teria frustrada essa expectativa. Ela fechava a loja às sete da noite e já deveria estar quase chegando em casa.
Ele baixou o volume da televisão, com o controle remoto, mas não a desligou. Ajeitou-se com cuidado, porque suspeitava que ela tivesse adormecido no seu colo. Não achou nada que o interessasse em nenhum dos canais, embora fossem dezenas deles. Incrível como é possível produzir tanta coisa enfadonha em tantos formatos e estilos diferentes. Ele era publicitário e produzia comerciais para a televisão. Ainda assim, a TV era mais um hábito que uma paixão. Gostava de tê-la ligada por companhia, ainda que estivesse lendo ou navegando na internet. Na verdade, pegaria seu livro neste momento, se isso não o obrigasse a mover suas pernas e acordar a dona dos doces olhos negros que o fitavam minutos atrás.
Pensou ter ouvido um barulho vindo da porta, ao mesmo tempo em que ela levantou a cabeça do seu colo. Definitivamente, era o barulho da chave na fechadura. Brigitte pulou do sofá e correu latindo para a porta enquanto Paula entrava em casa.

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