For a long time now I have tried simply to write the best I can. Sometimes I have good luck and write better than I can. (Ernest Hemingway)

Friday, January 7, 2011

Inauguração


Estava em Chicago na segunda semana de dezembro. Queria contar para Kátia e Marina como tinha sido meu dia, e postei a descrição no Facebook. Foi infernal (tive de quebrar o texto em vários pedaços), mas achei divertido e me deu vontade de ter um blog.
Agora que tenho, repito aqui aquele texto, para fugir da responsabilidade de escrever um post “inaugural” inteligente, interessante e inédito (quando eu vou conseguir escrever quatro adjetivos começados com a letra i seguidos, de novo?). Responsabilidade demais. 

Pronto, está inaugurado.

Crônicas de Chicago (dia 2)
Ontem, caminhada para o norte. Hoje, caminhada para o sul (este era o programa!). O frio intenso de ontem foi substituído por névoa baixa e garoa. Ruim para caminhar, pior para tirar fotografia.  Pelo meio da manhã desisti e voltei para o hotel. Mudança de planos. Vou sair e fazer as compras (encomendas da Kátia e da Marina). No caminho, paro para almoçar em algum lugar.
Saí do hotel. Está menos frio que ontem (uns dois graus positivos, hoje), mas a garoa rapidamente se transformou em chuva de verdade. Corri até a Bloomingdale’s, minha primeira parada, onde não achei nada (tudo o que havia na minha lista estava na segunda loja deles, umas seis quadras dali). Corri para o norte com a chuva gelada na cara quando vi o letreiro “Su Casa” do outro lado da rua. Restaurante mexicano. Entrei gelado e pingando. Tudo bem, né, é a “minha casa”.
A esta altura, o meu humor já não era o mesmo, mas um “beef fajitas” e duas margaritas (principalmente!) me devolveram a fé na vida e eu saí de lá feliz. Não sem antes consultar o mapa para saber aonde estava meu próximo destino. Não adiantou nada. Cinco minutos correndo na chuva deixaram claro que eu estava perdido. Não estou na direção certa. Peguei a primeira à esquerda e corri mais um quarteirão. O nome da rua me mostrou que eu continuava errado. Preciso de um lugar abrigado para abri o mapa!
Então me lembrei de uma coisa que eu ouvi na infância: “Quando nada parece fazer sentido, quando todos os caminhos te levam a lugar nenhum, quando você se sente perdido, sozinho e o mundo parece frio e estranho, procura refúgio na Igreja” (eu ia à missa quando era criança!). Do outro lado da rua estava a Holy Name Cathedral. Não tive dúvida: procurei refúgio na igreja. Lá dentro, estavam celebrando um casamento. A igreja estava só meio cheia, de modo que tive de entrar com cuidado para não chamar atenção (era óbvio que eu não era um convidado!), andando divagar para evitar (sem sucesso) o “quinch, quinch” das minhas solas de borracha molhadas no chão da igreja. Sentei num dos bancos do fundo e abri o mapa. Não estava prestando atenção ao casamento (nos primeiros dois minutos), mas, diz aí, você já tentou ler em um casamento e ignorar o que estava acontecendo no altar? Não dá.
Logo já estava identificando as passagens (mais ou menos as mesmas de um casamento católico no Brasil), e quando um sujeito leu aquela parte que diz, mais ou menos: “For all the ones who need, ..., for the bride and the groom, their parentes, family and friends, for the soaked man looking desperatly to the map at the back of the church, let us pray to the Lord”, eu quase respondi com eles: “Lord hear our prayers”.
Logo eu já estava comovido, desejando toda a felicidade do mundo para Robert e Susan (efeito margarita?) e saí da igreja com a fé na vida restaurada (pela segunda vez na tarde). Desta vez, foi só correr mais quatro quarteirões, debaixo de chuva, mas na direção certa, para conseguir comprar tudo o que estava na lista e descobrir que minha cota está estourada e não posso comprar nada para mim, nem presente para Kátia e Marina. Por todos aqueles que se desdobram para comprar as coisas que lhes pedem, quando viajam, para que sejam recompensados na vida eterna, rezemos ao Senhor.

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